Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Boletim da Construção da FIESP - Setembro de 2025

Agosto ficou marcado pelo início da vigência das tarifas impostas pelos EUA a todas as nações. Com sua efetivação ocorrida apenas no dia 6, portando menos de um mês antes do fechamento dessa edição do Boletim (3 de setembro), ainda não é possível dimensionar corretamente seus efeitos sobre os países, incluindo o próprio EUA. A taxa média alfandegária estimada do país norte-americano deve transitar de aproximados 2% (2024) para mais de 15%, com possíveis efeitos sobre a inflação do país. Além das questões tarifárias, a instabilidade institucional dos EUA também tem se mostrado um fator de preocupação para os mercados internacionais, incluindo o financeiro. O recente anúncio de demissão de uma diretora do FED (o banco central americano) por parte de Donald Trump gerou oscilações nos mercados, causadas por preocupações relativas a tentativas de intimidação voltadas a pressões por reduções prematuras da taxa de juros do país.


No Brasil, o contexto político também tem se mantido tumultuado, potencializando a incerteza econômica. Pressões dos EUA pelo fim do processo contra Bolsonaro têm levado a uma potencial aplicação rigorosa da Lei Magnitsky, a possíveis sanções relacionadas à compra de petróleo russo e a investigações relativas a supostas práticas anticoncorrenciais brasileiras (baseadas na Seção 301 da legislação comercial dos EUA). 

Todos esses fatores geram temores de possíveis impactos negativos sobre toda a economia brasileira, cuja dimensão é de difícil previsão. O início do julgamento (2 de setembro) relativo aos atos antidemocráticos fortalece essas preocupações, com potenciais novas retaliações do governo dos EUA. Paralelamente, a efetivação e o alcance das medidas anunciadas pelo governo brasileiro para reduzir o impacto negativo das tarifas (Plano Brasil Soberano, com crédito extraordinário previsto de R$ 30 bilhões e aporte de R$ 4,5 bilhões em fundos garantidores, que se soma a auxílios estaduais específicos) permanecem incertos. A isso se concatena um cenário de desaceleração econômica — efeito defasado das taxas de juros reais altamente restritivas, de mais de 10% ao ano — e de dificuldades do governo federal de cumprimento das metas fiscais, acompanhado de resiliência do mercado de trabalho e da renda dos trabalhadores. Com isso, previsões sobre o possível início de um ciclo de corte de juros se tornam ainda mais distantes, não obstante sinais recentes de alguma descompressão inflacionária.

O setor da construção se posiciona de modo dúbio no meio desses processos. Por um lado, divulgação recente do PIB setorial do segundo trimestre (analisada em mais detalhes na seção seguinte) confirma a desaceleração observada no trimestre anterior, com registro de estabilidade com viés negativo (-0,17%), atribuída, em sua maior parte, às elevadas taxas de juros. Por outro, o mercado de trabalho do setor apresenta resiliência ainda maior que a do restante da economia, com continuidade do crescimento, e a inflação setorial demonstra convergência ao IPCA. Projeções realizadas pelo mercado e por representantes do setor continuam a prever crescimento para 2025, e os dados mais atuais demonstram um cenário ainda positivo para o ano como um todo.

É exatamente esse movimento que se observa nos números de julho do emprego formal da construção. Com maior aceleração em relação ao mês anterior, tanto no Brasil quanto no estado de São Paulo, foi registrado um crescimento de 0,6%, que no período de um ano atinge, respectivamente, 2,9% e 2,1%. No que diz respeito à expectativa dos empresários nacionais com os próximos seis meses, houve leve queda, mas ainda com manutenção do patamar de confiança, enquanto São Paulo apresentou piora.

Reflexo da atividade no setor formal e informal, o consumo aparente de aço longo e cimento também apresentou, em julho, estabilidade com viés positivo, no acumulado em doze meses. No caso do aço houve crescimento de 0,2%, enquanto do cimento de 0,3%. Em ambos os casos há manutenção de crescimento significativo no período de um ano (7,2% e 6%, respectivamente).

Em termos de investimentos do governo central, que possuem impactos significativos no subsetor de obras de infraestrutura e no consumo de insumos, continuou a se observar em julho intensa retração no acumulado em doze meses. No caso dos investimentos totais, esse recuo foi de 6%, ultrapassando os 18% no período de um ano. Na abertura específica de obras e instalações, houve estabilidade (0,1%) após queda significativa nos últimos meses, já acumulando uma retração de 16,7% em doze meses.

Com maior defasagem, os dados mais recentes de lançamentos e vendas de imóveis, relativos a maio, continuam a apontar resultados muito positivos no acumulado em doze meses. Após crescimento de 2,1%, os lançamentos voltaram a apresentar novo recorde da série histórica (iniciada em 2014), com uma expansão de 28,7% no período de um ano. Apesar de menor, as vendas também apresentaram expansão significativa, de 1,5%, com um crescimento de 4,9% em doze meses. A abertura dos dados apenas para o Minha Casa, Minha Vida revela movimento semelhante, com os lançamentos também batendo novo recorde após crescimento de 1,8%, acumulando expansão de 38,2% no período de um ano, com as vendas também apresentando resultados próximos (aumento de 1,6% em maio e de 8,9% em doze meses).

Dados de julho apontam para um arrefecimento um pouco mais notável do financiamento, no acumulado em doze meses. No caso das operações contratadas com recursos do FGTS, após um período significativo de crescimento, houve queda de 0,9%, com a abertura demonstrando retração de 0,2% no caso dos imóveis novos (com crescimento de 20% no período de um ano) e de 5,2% nos usados. Já nas operações envolvendo o SBPE, observou-se uma queda maior, de 3,4%, mas ainda com crescimento de 4,3% em doze meses.

Por fim, em termos de custos e preços, houve novidades em julho. Na comparação entre o IGMI-R (preço dos imóveis) e o INCC-DI (custos de produção), observou-se um aumento do distanciamento entre os dois indicadores, com o primeiro crescendo 2,1% e o segundo 0,9%. A abertura dos preços do setor, na variação mensal do acumulado em doze meses, revelou leve arrefecimento geral, com o custo total (+5,2%) se igualando ao IPCA (+5,2%). Também ocorreu queda nos custos dos materiais (+4,9%) e da mão de obra (+5,8%) em comparação ao mês anterior, com essa última ainda se mantendo como principal fator de pressão.

Os seguintes pontos de atenção devem ser acompanhados:
• Profundidade dos efeitos defasados e da possível continuidade da taxa de juros em patamares elevados;
• Evolução do arrefecimento observado no crescimento da construção;
• Comportamento dos preços do setor e da economia em geral;
• Consequências das medidas protecionistas e políticas do governo dos Estados Unidos, especialmente aquelas voltadas ao Brasil;
• Desfecho das tensões fiscais, com possíveis cortes adicionais nos investimentos públicos por conta de restrições dos gastos;
• Risco de exaustão dos recursos da caderneta de poupança e do FGTS no médio e longo prazo, com destaque para a evolução do Saque-Aniversário e do novo programa Crédito do Trabalhador;
• Dificuldade de contratação de mão de obra, que continua a ser o principal componente a pressionar os custos do setor.

Confira a íntegra do Boletim da Construção no Observatório da Construção/FIESP

Nós usamos cookies para compreender o que o visitante do site da Abcic precisa e melhorar sua experiência como usuário. Ao clicar em “Aceitar” você estará de acordo com o uso desses cookies. Saiba mais!