Por conta da crescente demanda digital, os data centers se consolidam como estruturas essenciais para o funcionamento de sistemas de TI, exigindo projetos de engenharia altamente especializados e soluções de construção com foco em desempenho, segurança e sustentabilidade.
De acordo com Luis Tossi, vice-presidente da Associação Brasileira de Data Center (ABDC), essas edificações precisam ser muito mais robustas que prédios convencionais. “Os data centers concentram equipamentos pesados em espaços compactos. Um data hall padrão, por exemplo, suporta entre 1.500 e 2.000 kg/m², contra os 250 a 450 kg/m² das edificações tradicionais. Isso exige estruturas reforçadas e planejamento rigoroso, principalmente para compatibilizar os sistemas de refrigeração”, explica.
Além dos data halls, os projetos devem comportar sistemas de apoio, como quadros elétricos, baterias, UPS, geradores e chillers. Valesca Pavan Guimarães, diretora de projetos e obras da JLL, complementa: “A função principal do data center é manter serviços digitais funcionando sem parar. Isso exige um nível de confiabilidade que torna sua construção mais cara e complexa, envolvendo desde o início diversas especialidades da engenharia e tecnologias digitais para evitar erros.”
Mercado aquecido pela IA
A expansão dos data centers está diretamente relacionada ao crescimento da computação em nuvem, da inteligência artificial (IA) e do edge computing (processamento de dados perto de onde são gerados, como em sensores ou celulares). Valesca aponta que essa transformação tecnológica tem gerado oportunidades para toda a cadeia da construção civil. “Projetos desse tipo exigem profissionais altamente qualificados e favorecem o surgimento de cursos técnicos e certificações. Além disso, o modelo de edge data centers — menores e distribuídos geograficamente — exige soluções adaptadas a contextos locais, impulsionando o uso de construções modulares e pré-fabricadas.”
Segundo Tossi, o segmento mais expressivo do setor é o dos data centers comerciais, incluindo os de colocation, cloud e, especialmente, os hyperscale. “Essas instalações têm capacidade de 20 a 100 megawatts, e já há projetos previstos com até 400 MW. Isso mostra a escala e a complexidade dessas operações”, afirma.
A chegada da IA tem acelerado ainda mais esse movimento. “As aplicações de IA multiplicam por três ou quatro vezes a taxa de crescimento dos data centers convencionais. No Brasil, esse processo ainda está em fase inicial, mas já apresenta um ritmo de expansão entre 15% e 20% ao ano, acompanhando o cenário global”, completa Luis.
Requisitos técnicos e estruturais
Segundo Valesca, a construção de um data center começa com a escolha criteriosa do local: precisa estar fora de áreas de risco e contar com fácil acesso à energia e fibra óptica.
Do ponto de vista físico, Valesca aponta que os edifícios exigem tetos altos (de 4 a 5 metros), paredes com resistência ao fogo por no mínimo duas horas (conforme normas da NFPA) e pisos elevados entre 60 e 100 cm, feito de materiais que evitam eletricidade estática, para organizar cabos e ajudar na ventilação.
Os data centers usam materiais especiais para garantir desempenho, segurança e durabilidade. “Materiais que emitem poucas partículas são usados nas salas de servidores para manter o ar limpo e proteger os equipamentos. Isolantes térmicos, como poliuretano ou lã mineral, evitam perdas de calor em áreas refrigeradas, e sistemas avançados de impermeabilização protegem contra infiltrações, especialmente em locais chuvosos. Esses materiais são escolhidos para atender regras de segurança, manter a eficiência e suportar as condições extremas dos data centers”, comenta Valesca.
Tecnologias como construção modular e pré-fabricada são muito usadas porque aceleram as obras em até 30-40% e garantem que todas as partes sejam iguais. “Paredes, lajes e colunas de concreto pré-moldadas são feitas em fábricas e montadas no local, reduzindo o tempo de construção”, expõe Valesca.
Climatização
A climatização é um dos maiores desafios operacionais. Os equipamentos eletrônicos geram calor intenso, especialmente com o uso de IA. “Um rack com IA pode chegar a consumir entre 30 e 50 kW, exigindo sistemas de refrigeração extremamente potentes”, observa Valesca.
As soluções mais comuns são as unidades CRAC e CRAH, que mantêm a temperatura entre 20 °C e 24 °C e a umidade entre 40% e 60%. Há também o uso de corredores quentes e frios, sensores inteligentes e sistemas de gestão automatizados (BMS) para controlar o ambiente em tempo real. Tossi complementa que a refrigeração é o segundo maior consumo energético em um data center — atrás apenas dos próprios servidores. “Por isso, adotar soluções eficientes nesse aspecto impacta diretamente no desempenho e na sustentabilidade da operação”, diz.
Infraestrutura elétrica
A confiabilidade elétrica é fundamental. Os data centers utilizam fontes de energia duplicadas (com diferentes subestações), transformadores de alta capacidade e sistemas UPS com baterias de íon-lítio, garantindo energia durante quedas. “Além disso, geradores a diesel com tanques para até 72 horas de operação são instalados para garantir continuidade em emergências”, explica Valesca.
Ela acrescenta que os sistemas de distribuição utilizam barramentos e quadros reserva, com monitoramento contínuo via EPMS (Electrical Power Monitoring Systems), garantindo qualidade da energia em tempo real. “E há também um movimento crescente por energia limpa, com data centers contratando fontes renováveis via PPAs e utilizando baterias para armazenamento e estabilidade”, conclui.
Matéria publicada no Massa Cinzenta