Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

O que espero dos engenheiros estruturais na construção industrializada em concreto

Por Felipe Cassol – Presidente do Conselho Estratégico da ABCIC
 

Ao longo dos últimos anos, tenho acompanhado de perto a evolução da construção industrializada em concreto no Brasil. Vejo com clareza que vivemos um momento decisivo: a industrialização avança, mas ainda esbarra em gargalos que vão além da tecnologia e chegam, sobretudo, às pessoas. 


A sondagem realizada pela FGV em 2024 mostrou que 64,5% das empresas de construção já utilizam sistemas industrializados em algum nível. Mas também revelou uma verdade incômoda: falta mão de obra especializada, faltam projetistas preparados e gestores com a formação adequada para essa nova realidade. É justamente aí que nós, engenheiros, precisamos assumir protagonismo.


## O papel transformador dos engenheiros estruturais 


Sempre acreditei que os engenheiros estruturais representam a nata da nossa profissão. Somos nós que traduzimos conceitos arquitetônicos em soluções viáveis, equilibrando desempenho, custo e estética. No caso do pré-moldado, essa responsabilidade cresce ainda mais. 


Projetar para a industrialização não é apenas “quebrar” uma estrutura em peças. Como bem destaca David Fernández-Ordóñez, é pensar desde a concepção em como aquele projeto será produzido, transportado e montado. Essa visão integrada exige um engenheiro mais completo, capaz de dialogar com a arquitetura, a indústria e o canteiro. 


A arquitetura, por sua vez, caminha para soluções mais paramétricas, híbridas e sustentáveis. E eu digo com convicção: a inteligência artificial pode ajudar a detalhar, mas não vai substituir a nossa criatividade e o nosso senso crítico. O engenheiro estrutural seguirá sendo indispensável justamente por sua capacidade de inovar com responsabilidade.


## Tecnologia, inovação e sustentabilidade: uma tríade indissociável 


Não existe sustentabilidade sem tecnologia e inovação. Essa é uma convicção que carrego comigo. O pré-moldado traz ganhos evidentes: redução de resíduos, maior durabilidade, possibilidade de reúso de elementos. Mas esses benefícios só se concretizam se, como engenheiros, incorporarmos no projeto critérios de ciclo de vida, eficiência material e desempenho energético. 


O fib Model Code 2020 já coloca a sustentabilidade como requisito central. No Brasil, demos um passo importante com a NBR 9062/2017, que permite que soluções inovadoras sejam aplicadas mediante verificação experimental. Isso abre espaço para a criatividade, mas reforça também nossa responsabilidade: não podemos nos apoiar cegamente em softwares avançados. É preciso validar, testar e assumir a decisão técnica.
 

## Desafios e oportunidades para nossa geração 


Tenho convicção de que a industrialização vai ganhar cada vez mais espaço. As empresas que já a utilizam buscam principalmente reduzir prazos e dependência de mão de obra no canteiro. Para atender a essa expectativa, nós, engenheiros estruturais, precisamos antecipar em nossos projetos as lógicas da fábrica, do transporte e da montagem. Isso é produtividade aplicada ao projeto.

 

Olhando para frente, enxergo dois grandes desafios — e também oportunidades: 

1. Aprendizado contínuo – A revolução digital exige que estudemos durante toda a carreira. O domínio de ferramentas avançadas precisa vir acompanhado de senso crítico para reduzir riscos e garantir qualidade. 
2. Integração multidisciplinar – O futuro é colaborativo. Estrutura, arquitetura, instalações e desempenho ambiental precisam nascer juntos, desde o conceito. Cabe a nós, engenheiros de estruturas, sermos mediadores desse diálogo. 


## Um chamado à nossa categoria 


Falo não apenas como presidente do Conselho Estratégico da ABCIC, mas como engenheiro que acredita na força transformadora da nossa profissão. O que espero dos colegas engenheiros estruturais é abertura ao novo, disposição para aprender continuamente e coragem para liderar a transformação tecnológica da construção. 

Mais do que calculistas, precisamos ser protagonistas da inovação. Nosso desafio é unir criatividade, tecnologia e sustentabilidade em projetos que tornem a engenharia brasileira mais competitiva, produtiva e, acima de tudo, relevante para a sociedade. 


Projetar para a industrialização é mais do que calcular. É participar ativamente de um movimento que pode reposicionar a engenharia brasileira no cenário global. E é essa jornada que convido cada engenheiro estrutural a trilhar comigo. 

 

Artigo publicado na Revista Estrutura – edição 17

 

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